Padre Eterno
Autor: Desconhecido
Data: 1535
Material: Argamassa de cal e pigmentos
Dimensões (cm): alt. 199 x comp. 249,5
Inscrição: ADES OD[EVS] OID(…) OR: :ET FILLIVS: ET SPS: SA(…) | HIC EST FILIVS MEVS DILECTVS IN QVO MIHI BENE COMPLACUIT
Proveniência: Chaves, Igreja de Nossa Senhora da Azinheira
N.º de Inventário: MAS PD 9 (peça associada: MAS PD 8)
Ao centro, numa espécie de mandorla avermelhada (auréola oval, em forma de amêndoa – mandorla em italiano) e sobre nuvens, aparece o busto de Deus-Pai, com longas barbas e cabelos brancos e o manto a esvoaçar. Na sua mão esquerda segura o mundo e a mão direita está em gesto de bênção. À sua volta aparecem dois anjos, um de cada lado, que parecem segurar a mandorla. Do lado direito, quatro anjos cantores seguram um livro de música e, do lado esquerdo, um toca flauta e outro segura o órgão que um terceiro está a tocar, formando uma orquestra celestial. Nos cantos superiores, direito e esquerdo, aparecem os bustos de dois homens (profetas?) desenhados a traço avermelhado que assomam a uma espécie de janela. O busto do lado direito segura uma filactera com uma inscrição.
Na parte superior do fresco, uma filactera contém uma outra inscrição que não se consegue decifrar.
Como refere Paula Bessa, a composição do topo da pintura com meios corpos de profetas, enquadrados por janelas com arcada no topo, foi, provavelmente, influenciada pelas xilogravuras da Biblia Pauperum. Haveria legendas nas filacteras acompanhando os profetas, mas, infelizmente, não se conseguem ler.
Sobre Deus-Pai há também uma legenda muito truncada de que se consegue ler: “:ADES OD[EVS] OID(…) OR: :ET FILLIVS: ET SPS: SA(…)” (a última parte da legenda refere, evidentemente, “(…) e Filho e Espírito Santo”). Melhor se conservou a legenda entre Deus-Pai e a pomba do Espírito Santo: “HIC EST FILIVS MEVS DILECTVS IN QVO MIHI BENE COMPLACUIT” (Este é o meu Filho dileto no qual pus as minhas complacências).
Este fresco tem muito interesse iconográfico e artístico, mostrando um artista personalizado, decerto habituado, tal como outros fresquistas do aro minhoto, à prática da pintura retabular de cavalete. De realçar também a presença e a importância que é atribuída à música, com a representação de anjos músicos, de pautas musicais com cântico sacro e de instrumentos musicais.
As obras de restauro levadas a cabo na Igreja de Nossa Senhora da Azinheira de Outeiro Seco pela Direção Geral dos Edifícios e dos Monumentos Nacionais iniciaram-se em 1937, ano em que se procedeu ao destacamento dos frescos.
Como referido por Paula Bessa, o destacamento desta pintura de grandes dimensões levou à sua divisão em duas partes – o chamado Padre Eterno e o Batismo de Cristo (MAS PD 8) – e a que ocorresse degradação da qualidade da pintura. Ou seja, os dois painéis hoje existentes (Padre Eterno e Batismo de Cristo) constituíam uma única pintura, figurando-se no seu topo Deus Pai sobre o Batismo de Jesus por São João Baptista.
Este Padre Eterno incluía-se num vastíssimo conjunto de pinturas murais que recobriam quase inteiramente (e, na sua maior parte, continuam a recobrir) as paredes laterais da nave da antiga igreja paroquial de Nossa Senhora da Azinheira de Outeiro Seco, em Chaves. Na verdade, em vários momentos do século XVI, as paredes laterais da nave desta igreja foram recebendo sucessivos programas de pintura mural, provavelmente, quase todos realizados pela mesma oficina. Esta modalidade, sendo tão eficaz, económica e duradoira, era, também, sujeita a rápidas mudanças de gosto ou imposições de matriz litúrgica e cultual, o que explica que possa haver ciclos fresquistas recobertos por outros com menos de trinta anos de intervalo.