A história
Atravessando a receção do Museu de Alberto Sampaio, o visitante entra num belíssimo claustro medieval que pertencia à Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira e que passou a ser utilizado como espaço museológico a partir de 1928, quando o Museu foi criado.
A sua forma irregular, a circuitar a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, torna-o num exemplar único na arquitectura medieval portuguesa, mas intrigante quanto às suas transformações ao longo dos tempos.
Dado que é constituído por uma sequência de arcos de volta perfeita que sugerem o estilo românico, foi considerado por alguns historiadores como obra do século XIII e rotulado de “românico”, “românico tardio” ou mesmo de “românico-gótico”. O estudo recente da Professora Doutora Lúcia Rosas, catedrática da Faculdade de Letras do Porto, põe de lado estas teses tradicionais e defende que a estrutura medieval, na sua primitiva configuração, não chegou aos nossos dias, tendo sido ”reformada” no século XVI, durante o priorado de D. Diogo Pinheiro, cujo brasão aparece esculpido numa aduela do ângulo sudoeste do claustro. Lúcia Rosas chama a atenção para o facto de existirem, contudo, elementos reaproveitados e outros que foram copiados para imitar certas características do claustro românico pré-existente.
Além desta reforma do séc. XVI, há uma outra no séc. XVII quando a cabeceira da igreja de Nossa Senhora da Oliveira foi ampliada.
O claustro, como hoje o vemos, é constituído por uma sequência de arcos de volta perfeita que assentam em colunas, cujos capitéis estão decorados com motivos vegetalistas, volutas simples ou perladas e pequenos rostos humanos. Os quarenta e dois capitéis são todos diferentes e alguns foram refeitos aquando do restauro do claustro entre 1928/31.
As galerias comunicam com o jardim por passagens rasgadas nos muretes, os chamados estilóbatos, em que assentam as bases das colunas, algumas das quais decoradas com folhas de videira. Nestes muretes podemos encontrar desenhos gravados de jogos medievais de tabuleiro, os alguergues (alguergue de 12 e o de 3), assim como algumas representações sagradas: uma custódia e uma pequena capela.
Em 1911, a Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira foi extinta e, a partir dessa altura, o claustro ficou ao abandono. Alfredo Guimarães foi nomeado em 1928, director do então criado Museu e foi ele que encabeçou uma campanha de sensibilização e mobilização dos vimaranenses para que o claustro fosse salvo e restaurado. Fotografias da época mostram os estudantes a desfilarem pela cidade com cartazes onde se lia: “Vimaranenses, salvai o claustro da vossa Colegiada”.
As obras de adaptação a Museu começaram em 1929 e terminaram em 1931. O restauro foi orientado por Alfredo Guimarães com o propósito de o reconduzir “à sua primitiva expressão artística”. Algumas colunas foram refeitas assim como alguns capitéis. A cornija e a cachorrada foram substituídas, assim como a cobertura de estuque pela actual, que é de madeira. Foi mandado executar, nessa altura, o belo portão de ferro forjado que dá acesso à Praça da Oliveira.
O Museu abriu as suas portas ao público em 1931 e todo o espólio de arte sacra passou a estar exposto neste claustro e nas salas anexas, que hoje correspondem à sala de Santa Clara, à Sala da Talha e à Sala do Capítulo. Só nos anos 60 se expandiu para outros espaços como a Casa do D. Prior e a Casa do Cabido.
É neste claustro que encontramos a colecção lítica do Museu, isto é, as peças em pedra como os brasões, as pias de água benta, os capitéis e as lápides. Também se podem ver algumas esculturas.
A destacar neste espaço, a única capela vinculada à Colegiada que chegou aos nossos dias, a capela tumular de S. Brás. Em estilo gótico, tem um arco quebrado à entrada e a cobertura em arcos ogivais. Fundada no século XV por Álvaro Gonçalves de Freitas, vedor da fazenda de D. João I, tem no seu interior o túmulo do fundador e da sua mulher, Beringela Gil, ambos com as suas respectivas jacentes. Outros dois túmulos, antropomórficos, encontrados no subsolo da capela aquando do seu restauro, estão em exposição e mostram a sua função tumular.
Ao percorrer o Claustro encontramos, também, num arcossólio, o túmulo gótico, do séc. XV, de Afonso Vieira e mais à frente os túmulos brasonados da família dos Freitas do Amaral com inscrições do séc. XVI e XVIII e ainda o túmulo, também com jacente, do séc. XVI, de Manuel Valadares.
A porta da sala do capítulo tem à entrada um arco ultrapassado e capitéis românicos com dois animais afrontados que se devoram. Poderá ser uma alusão à luta entre o bem e o mal.
No jardim fronteiro está o busto do fundador e primeiro diretor do Museu de Alberto Sampaio, Alfredo Guimarães.
Nos meses de verão, em julho e agosto, o claustro está aberto até à meia-noite, todos os dias exceto segunda-feira, com uma nova exposição de arte.