Horário: Terça a domingo, das 10h00 às 18h00

Sacrifícios de Abel e Caim

 

Sacrifícios de Abel e Caim

Autor: Oficina de Simão Álvares (?)

Data: Século XVII, meados

Material: Óleo sobre madeira de castanho

Dimensões (cm): alt. 95 x larg. 104

Proveniência: Guimarães, Convento de Santa Clara

N.º de Inventário: MAS P 21

A pintura baseia-se num episódio bíblico (conforme indicado pela legenda presente: GENES.C.4.). Estão representadas duas figuras de joelhos, cada uma próxima de um altar de sacrifício. No primeiro plano, há um cordeiro a ser consumido pelo fogo; no segundo, um molho de espigas em chamas. Percebe-se que Deus acolhe favoravelmente a oferta do primeiro, Abel, pois aparece entre nuvens inclinado para ele, enquanto que o fogo e o fumo desse altar sobem direitos ao céu. Em segundo plano, rejeita a oferenda do segundo, Caim, pois o fumo do sacrifício é desviado para o rosto do ofertante.

A concordância entre a mensagem escrita da legenda e a mensagem  visual é perfeita, e esta corresponde  à iconografia tradicional do episódio dos sacrifícios de Abel e Caim: “Ao fim de algum tempo, Caim apresentou ao Senhor uma oferta de frutos da terra. Por seu lado, Abel ofereceu primogénitos do seu rebanho e as gorduras deles. O Senhor olhou favoravelmente para Abel e para a sua oferta, mas não olhou para Caim nem para a sua oferta.” (Genesis, 3 – 5).

Esta tábua pertence a um conjunto mais vasto (MAS P 17 a MAS P 29 e MAS P 60) que integra as coleções do Museu. São pinturas a óleo sobre madeira de castanho descobertas pelo primeiro diretor do Museu de Alberto Sampaio, Alfredo Guimarães, numa parede falsa da antiga Casa do Cabido da Colegiada de Santa Maria da Oliveira, posteriormente incluído no fundo patrimonial do Museu (1947). Recentes investigações permitiram concluir que este conjunto de pinturas pertenceu ao extinto Convento de Santa Clara, decorando a Sacristia.

Presentemente, atribui-se a autoria deste conjunto de tábuas a mestre local desconhecido. Aventou-se a hipótese destas obras pertencerem à oficina vimaranense de Simão Álvares, mas, tendo em consideração as características iconográficas e de estilo, concluiu-se que foram pelo menos dois os artistas intervenientes, um deles mais ágil no desenho e mais erudito já que alguns destes painéis revelam um domínio técnico e uma personalidade superiores.

Foi também possível concluir que a principal fonte iconográfica utilizada foram as gravuras maneiristas nórdicas do xilogravador Jost Amman (1539 – 1591) (editadas em Frankfurt no ano de 1580). Os temas do Velho Testamento são muito pouco comuns na arte portuguesa do século XVII, sendo os motivos preferidos pelos pintores ou pelos encomendadores a vida de Cristo, dos santos e da Virgem, pelo que se compreende a utilização de ilustrações estrangeiras como fonte de inspiração para representar outros temas bíblicos.